Um Quarto Só Seu, originalmente intitulado A Room of One's Own, é um ensaio de Virginia Woolf, publicado em 24 de outubro de 1929.

Virginia Woolf, escritora britânica nascida em 25 de janeiro de 1882, no seio de uma família da alta sociedade londrina, suicidou-se em 1941, atirando-se ao rio com os bolsos cheios de pedras.

Foi uma das precursoras do uso do fluxo de consciência, uma técnica literária modernista, que nos deixou um precioso legado de obras e ensaios bastante polémicos.

Um dos ensaios de Virginia Woolf, Um Quarto Só Seu, remete para a luta das mulheres pela sua independência, resultado de várias palestras às sociedades literárias.

Ao denunciar a desigualdade de género na literatura e na sociedade, a autora argumenta, vigorosamente, as necessidades de independência financeira e de um espaço exclusivo às criações literárias e propício ao florescimento intelectual feminino. Expõe as dificuldades históricas enfrentadas pelas mulheres, desde a restrição ao acesso à educação até às limitações criativas.

Um teto, um quarto, um espaço livre todo seu.

Seria suficiente para criar?

E os recursos e a aceitação social?

O que pretendia Virginia Woolf com este ensaio?

As dificuldades sociais e financeiras, assim como os preconceitos enfrentados ao longo da história fazem deste ensaio um assunto vital para ser discutido.

À luz do seu tempo, uma mulher precisava de dinheiro e de um quarto só seu para dar asas à sua criatividade.

Um quarto que representasse o espaço, a privacidade.

Dinheiro que desse independência e tempo.

Mas, será que a independência financeira lhes proporcionaria a liberdade intelectual?

Os homens desse tempo sempre tiveram tudo isso.

As mulheres não tinham nada.

As mulheres estavam reféns da sua condição.

As mulheres sempre foram talentosas, mas as possibilidades eram-lhe negadas, sem oportunidade para depurar a sua arte.

Considerava que o génio das mulheres era esquecido no tempo, ainda que muito tivessem contribuído para o crescimento da obra masculina.

Então, o quarto fechado é, por si só, a condição essencial para a sua autonomia, para a liberdade criativa.

Para progredirem.

As mulheres precisavam de viver por si e para si, ainda que livres e numa silente solidão.

Mesmo sem expetativas, precisavam de desenvolver as suas capacidades. Persistir na luta pelo reconhecimento.

Libertar-se a escrever.

Woolf vem refutar os argumentos de que as mulheres são inferiores aos homens e, por isso, marginalizadas enquanto escritoras.

Na luta pelo direito ao voto, viam-se impedidas de frequentar a escola e universidade, o espaço público, restringidas apenas às tarefas domésticas e à educação dos filhos.

Foi com autoras como Jane Austen, George Eliot e as irmãs Brontë (Anne, Charlotte e Emily) que se superaram anos de tradição.

Woolf exorta todas as mulheres a escrever, sobre tudo e sem limitações.

Virginia Woolf é uma voz interventiva da Literatura Feminina.

Sem dúvida.

Uma das vozes mais proeminentes que levanta a cortina de um mundo invisível. Uma voz que emerge e abre caminho para a liberdade de expressão das mulheres na literatura e na sociedade.

Ainda bem que é lida.

Ainda bem que a podemos ler.

O Quarto é um espaço. É uma metáfora poderosa que simboliza a procura da mulher pela independência, liberdade e expressão, cruciais para o seu progresso.

É um refúgio íntimo onde as mulheres exploram a sua criatividade e reivindicam o direito à voz e à identidade, livre das amarras sociais e das limitações impostas pela sociedade.

O termo «quarto» simboliza, não apenas um local físico, mas também um espaço mental e criativo reservado à mulher. Tal facto é enfatizado pela palavra «seu», que implica posse e pertença, sugerindo a necessidade de um espaço para desenvolverem as suas ideias sem interferências externas, restrições sociais ou limitações financeiras.

O ensaio de Woolf é um livro profundamente simbólico na defesa da autonomia feminina. Marca um ponto crucial no movimento feminista.

Desafia a sociedade.

É um manifesto que ecoa como um apelo à igualdade e à criação de condições favoráveis ao progresso intelectual das mulheres.

É um convite à descoberta de um mundo escondido, rompendo tradições, na expetativa de abrir portas à liberdade de expressão das mulheres na sociedade e na literatura.

Atualmente, embora muitos aspetos tenham evoluído, ainda existem desafios na procura pela igualdade de género. Por isso, é vital contextualizar essas mudanças na sociedade contemporânea em comparação com o período em que Woolf escreveu o ensaio.

Um Quarto Só Seu é uma obra intemporal, pois permite uma série de reflexões sobre o que é ser mulher, o seu lugar na sociedade e a sua relação com os outros.

 

 

 

Elizabete 5 Janeiro 2024

 


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