Pela voz da demência

 

O tremor começa subtil e furtivo, como uma nota dissonante, enquanto o corpo parece uma pauta musical que não se consegue controlar. Cada movimento, cada gesto é uma batalha contra forças invisíveis que parecem querer derrubar.

Lembro-me da primeira vez que percebi que algo estava errado. As mãos começaram a tremer sem motivo aparente. No início, ignorou-se, atribuindo o sintoma à fadiga. Mas o tremor persistiu, insidioso e implacável, até que não se pôde esconder mais a verdade.

Desde então, tem-se vivido num mundo de constantes oscilações, onde o chão se move sob seus pés. Cada passo é uma dança incerta, uma luta para manter o equilíbrio entre a normalidade e a disfunção.

Mas apesar dos desafios diários, descobriu-se uma força e uma determinação inabaláveis, enfrentando cada obstáculo com coragem e dignidade. Porque o tremor abala o corpo, mas não abala a alma. É nos abalos do corpo que encontra a sua fortaleza e apesar de sacudido, a alma permanece forte em toda sua essência. Uma verdadeira vitória.

Parte superior do formulário

Na penumbra da mente, onde as memórias dançam entre a luz e a sombra, reside a complexidade da demência. É um labirinto de lembranças fragmentadas, onde o passado se entrelaça com o presente num emaranhado de emoções e experiências de momentos perdidos e encontrados.

Restam as memórias. É como se fosse uma página de um livro antigo, desgastada pelo tempo e pela névoa do esquecimento. As páginas abrem-se suavemente. Revelam lembranças nítidas e vívidas. Outras vezes, despedaçam-se e desaparecem.

Solitárias, estas pessoas navegam pelas ruas estreitas da memória com coragem e vulnerabilidade. Cada dia é uma caminhada única. É um desafio acompanhar tamanha dança delicada entre a lucidez e a confusão, entre a realidade e a ilusão. Mas também é uma oportunidade de constatar a resiliência humana, a capacidade de encontrar beleza e significado nas sombras mais profundas da mente.

Honram-se histórias perdidas, enquanto se procura esperança na fragilidade da memória.

Perdidas ou não, são as que restam.

Elizabete © Todos os direitos reservados

 

Comentários

Mensagens populares