Pequeno retrato da
ansiedade
Os
primeiros raios de sol iluminavam timidamente a janela do seu quarto. Estava
presa num turbilhão de pensamentos, cercada por uma névoa densa de ansiedade. As
suas mãos sempre geladas e sem cor destapavam-na sem força, revelando a
angústia que habitava a sua mente nos últimos dias. Precisava de enfrentar o
dia, mas os medos e as incertezas aumentavam a pressão sobre si. Encontrava-se
numa luta interna entre as suas ambições e a necessidade de encontrar a paz, de
encontrar a sua voz. Mas tinha de corresponder às expetativas, dos pais, dos
amigos, da sociedade. Como um fantoche controlado por fios invisíveis,
continuava na dança frenética, alimentando a ilusão do progresso e das
conquistas. Sentia-se sufocada pela necessidade de provar o seu valor num mundo
cada vez mais competitivo, uma pressão que lhe tirava o sono há mais de uma
semana. Pensava em todos, menos nela, nos seus gostos. Simplesmente em agradar
e conquistar. Cada passo dado em direção ao desconhecido era acompanhada por
uma voz interna que sussurrava dúvidas e inseguranças, frisava caminhos mal
seguidos e falhas não evitadas. Mesmo assim, persistia, agarrando-se à
esperança de um dia se poder aproximar dos seus sonhos, procurando equilíbrio entre
as suas aspirações e a felicidade interior. Porém, entre nervos e suspiros, as
mãos trémulas revelavam a verdade nua e crua: alimentava a ambição, que sem se
aperceber, era a sua destruição.
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